top of page

Terapia Existencialista Sartreana: Como funciona essa abordagem?

Atualizado: 3 de mai.





A terapia existencialista sartreana é uma abordagem psicoterapêutica inspirada nas ideias do filósofo francês Jean-Paul Sartre, um dos principais expoentes do existencialismo. Ela se baseia em conceitos fundamentais da filosofia sartreana, como a liberdade radical, a responsabilidade, a autenticidade e a ausência de uma essência fixa no ser humano. Vamos explicar como ela funciona de forma clara e estruturada:

1. Pressupostos básicos

Sartre afirmava que "a existência precede a essência", ou seja, o ser humano não nasce com um propósito ou natureza predeterminada. Ele é lançado no mundo e define quem é por meio de suas escolhas e ações. Na terapia existencialista sartreana, esse princípio é central: o indivíduo é visto como totalmente livre e responsável por construir sua própria vida, mesmo diante de limitações externas.

Outro conceito importante é a "má-fé" (mauvaise foi), que ocorre quando a pessoa nega sua liberdade, atribuindo suas escolhas a fatores externos (como destino, sociedade ou trauma) para evitar a angústia de assumir a responsabilidade por si mesma.

2. Objetivo da terapia

O objetivo principal não é "curar" no sentido médico tradicional, mas ajudar o cliente a confrontar sua liberdade e assumir a responsabilidade por suas escolhas. Isso envolve:

  • Reconhecer a angústia existencial como parte natural da condição humana.

  • Superar a má-fé, vivendo de forma mais autêntica e alinhada com os próprios valores e desejos.

  • Enfrentar o absurdo da existência (a falta de um significado inerente à vida) e criar significado por meio das próprias ações.

3. Funcionamento na prática

Na terapia sartreana, o terapeuta atua como um facilitador, não como uma autoridade que impõe soluções. O processo geralmente envolve:

  • Diálogo reflexivo: O terapeuta incentiva o cliente a explorar suas experiências, escolhas e padrões de comportamento, questionando justificativas que possam indicar má-fé.

  • Foco no presente e no futuro: Embora o passado seja considerado, o enfoque está em como o cliente pode agir agora para redefinir sua vida, já que, para Sartre, o passado não determina o futuro.

  • Confrontação da liberdade: O terapeuta ajuda o cliente a perceber que, mesmo em situações difíceis, há sempre um espaço de escolha. Por exemplo, alguém pode não escolher sua circunstância (como uma doença ou uma perda), mas pode escolher como lidar com ela.

  • Angústia como ponto de partida: A terapia não busca eliminar a angústia, mas usá-la como um sinal de que o cliente está enfrentando sua liberdade e o peso de suas decisões.

4. Exemplo prático

Imagine um cliente que se sente preso em um emprego que odeia. Ele pode culpar a economia, a família ou a falta de oportunidades. O terapeuta sartreano o levaria a questionar: "Por que você continua escolhendo ficar nesse emprego? Que valores ou medos estão guiando essa decisão?". O foco seria ajudar o cliente a reconhecer sua liberdade de mudar (ou não) e assumir as consequências dessa escolha, vivendo de forma mais autêntica.

5. Diferenças de outras abordagens

Diferente da psicanálise, que explora o inconsciente e o passado como determinantes, ou da terapia cognitivo-comportamental, que foca em corrigir pensamentos disfuncionais, a terapia sartreana enfatiza a autonomia do indivíduo e a aceitação da incerteza da existência. Não há "técnicas" rígidas; o processo é mais filosófico e personalizado.

Em resumo, a terapia existencialista sartreana funciona como um convite para o cliente encarar sua liberdade radical, abandonar ilusões que o prendem e construir uma vida autêntica, mesmo que isso signifique lidar com a angústia inevitável de ser humano. É uma jornada de autodescoberta e ação consciente.

bottom of page