Amor ou Adrenalina? A Autodestruição do Borderline em Relacionamentos Abertos
- Juliana Myrian
- 5 de ago.
- 3 min de leitura

Será que a busca por relacionamentos abertos no borderline é uma fuga da intimidade ou uma tentativa desesperada de conexão?
Pode um relacionamento aberto ser saudável para alguém com transtorno borderline, ou é apenas uma receita para o desastre emocional?
Por que o borderline destrói o que mais deseja: seria o vazio interno o verdadeiro sabotador de seus relacionamentos? O transtorno de personalidade borderline (TPB) é marcado por uma intensa instabilidade emocional, medo de abandono, impulsividade e uma autoimagem fragmentada. Essas características tornam os relacionamentos interpessoais um terreno complexo, especialmente quando se trata de dinâmicas não convencionais, como os relacionamentos abertos.
Embora a busca por essa modalidade relacional possa parecer, à primeira vista, uma expressão de liberdade ou autenticidade, para pessoas com TPB ela frequentemente reflete uma tentativa de lidar com o vazio crônico, a necessidade de validação e a impulsividade característica do transtorno.
Primeiramente, a busca por relacionamentos abertos entre pessoas com TPB está intrinsecamente ligada às suas dificuldades emocionais e cognitivas. A instabilidade emocional e o pensamento dicotômico como a tendência de enxergar pessoas ou situações em termos absolutos, como "tudo bom" ou "tudo ruim", criam distorções na percepção da realidade. A impulsividade leva esses indivíduos a buscar experiências intensas, como novos parceiros, na tentativa de aliviar o vazio crônico, um sentimento descrito como uma desconexão profunda de si mesmo. No entanto, essa busca por adrenalina é efêmera e não resolve a insegurança subjacente, criando um ciclo de insatisfação. Por exemplo, a excitação de um novo vínculo pode ser rapidamente substituída por ciúmes, insegurança ou desvalorização do parceiro, o que compromete a estabilidade do relacionamento.
Outro ponto crítico é que relacionamentos abertos exigem habilidades interpessoais que são particularmente desafiadoras para pessoas com TPB. A comunicação clara, a confiança mútua e a capacidade de estabelecer limites saudáveis são essenciais para que essa modalidade funcione. Contudo, a hipervigilância emocional e a dificuldade de mentalização como compreender as intenções ou perspectivas alheias, dificultam a manutenção de acordos relacionais.
Um indivíduo com TPB pode, por exemplo, concordar com um relacionamento aberto na tentativa de evitar a rejeição, mas acabar desenvolvendo dependência emocional. Essa contradição entre o desejo de liberdade e a necessidade de segurança emocional cria um conflito interno que frequentemente culmina na destruição do relacionamento. Assim, o que inicialmente parece uma solução para a monotonia ou o medo de dependência torna-se um gatilho para crises emocionais.
Por fim, a tendência de pessoas com TPB de destruir relacionamentos reflete uma combinação de autossabotagem e busca inconsciente por validação. A idealização inicial de um parceiro, seguida por sua desvalorização quando ele não atende às expectativas irreais, é amplificada em relacionamentos abertos, onde múltiplos vínculos aumentam a complexidade emocional. A busca incessante por algo que preencha o vazio, muitas vezes descrita como uma perseguição do "nada", leva a comportamentos impulsivos que afastam parceiros e reforçam o ciclo de rejeição.
Embora o desejo de conexão seja genuíno, o medo da vulnerabilidade e a dificuldade em tolerar emoções intensas transformam relacionamentos abertos em um campo minado para o borderline.
Em conclusão, relacionamentos abertos, embora possam ser funcionais para alguns, representam um desafio desproporcional para pessoas com transtorno de personalidade borderline. A busca por adrenalina, a dificuldade de gerenciar distorções cognitivas e a instabilidade emocional criam um cenário onde esses relacionamentos tendem a intensificar conflitos internos e levar à destruição de laços afetivos. Para psicólogos, é crucial abordar essas dinâmicas em terapia, ajudando o paciente a compreender suas motivações e desenvolver habilidades de regulação emocional. Somente assim é possível transformar a busca por conexão em relacionamentos mais saudáveis e estáveis, seja qual for a modalidade escolhida.



