TDAH: Como a falta de atenção pode impactar na sua rotina
- Juliana Myrian
- 18 de abr.
- 5 min de leitura
Atualizado: 3 de mai.
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, desde crianças até adultos. Apesar de ser amplamente discutido, ainda há muitos mitos e mal-entendidos sobre o que realmente é o TDAH, como ele é diagnosticado e por que o acompanhamento contínuo, incluindo a terapia, é essencial para quem vive com o transtorno.
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades persistentes em manter a atenção, comportamentos impulsivos e/ou níveis de hiperatividade que são inadequados para a idade da pessoa. Ele é classificado em três subtipos principais, de acordo com os sintomas predominantes:
Predominantemente desatento: A pessoa tem dificuldade em manter o foco, organizar tarefas, seguir instruções e frequentemente perde objetos ou se distrai com facilidade.
Predominantemente hiperativo/impulsivo: Caracteriza-se por inquietação, dificuldade em permanecer sentado, falar excessivamente e agir sem pensar nas consequências.
Combinado: Apresenta sintomas tanto de desatenção quanto de hiperatividade/impulsividade.
O TDAH não é apenas uma "falta de disciplina" ou "preguiça", como alguns podem pensar. Ele tem bases neurobiológicas, envolvendo diferenças no funcionamento de áreas do cérebro, como o córtex pré-frontal, que regula a atenção, o planejamento e o controle dos impulsos. Essas diferenças são influenciadas por fatores genéticos e ambientais, como complicações no nascimento, exposição a toxinas ou estresse extremo na infância.
Os sintomas do TDAH podem variar ao longo da vida. Em crianças, a hiperatividade é mais evidente, enquanto em adolescentes e adultos, a desatenção e a impulsividade podem se manifestar de maneiras mais sutis, como dificuldade em gerenciar o tempo, procrastinação crônica ou tomada de decisões impulsivas. Isso faz com que o TDAH muitas vezes seja diagnosticado ou confundido com outros problemas, como ansiedade ou depressão.
O diagnóstico do TDAH é um processo complexo que exige uma abordagem multidisciplinar. Não existe um único teste que confirme o transtorno, mas a avaliação é baseada em critérios estabelecidos por manuais diagnósticos, como o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) ou o CID-11 (Classificação Internacional de Doenças). Esses critérios incluem a presença de sintomas antes dos 12 anos, sua persistência por pelo menos seis meses e seu impacto significativo em pelo menos dois contextos da vida, como escola, trabalho ou relações sociais.
O processo diagnóstico geralmente envolve:
Entrevistas clínicas
Escalas e questionários
Observação comportamental
Exclusão de outras condições
É essencial descartar outras causas para os sintomas, como problemas de visão ou audição, transtornos de ansiedade, depressão, epilepsia ou dislexia.
A neuropsicologia desempenha um papel crucial nesse processo, oferecendo uma avaliação detalhada das funções cognitivas e comportamentais do indivíduo.
A importância da avaliação neuropsicológica
A avaliação neuropsicológica é uma ferramenta poderosa para entender o funcionamento cerebral de uma pessoa com suspeita de TDAH. Ela vai além da simples identificação de sintomas, analisando como o cérebro processa informações e como essas características afetam a vida cotidiana. Essa avaliação é realizada por um neuropsicólogo, que utiliza uma bateria de testes padronizados autorizados pelo Satepsi para medir habilidades como:
Atenção sustentada e seletiva: Capacidade de manter o foco em uma tarefa por um período prolongado ou de filtrar distrações.
Memória de trabalho: Habilidade de armazenar e manipular informações temporariamente, essencial para tarefas como resolver problemas ou seguir instruções.
Funções executivas: Habilidades como planejamento, organização, controle inibitório (capacidade de resistir a impulsos) e flexibilidade cognitiva (adaptação a mudanças).
Velocidade de processamento: Rapidez com que o cérebro processa informações.
Esses testes ajudam a mapear os pontos fortes e fracos do indivíduo, permitindo um diagnóstico mais preciso. Por exemplo, uma pessoa com TDAH pode apresentar desempenho abaixo da média em tarefas que exigem atenção sustentada, mas ter habilidades verbais ou criativas acima da média. Além disso, a avaliação neuropsicológica pode identificar condições comórbidas, como transtorno de ansiedade, transtorno do espectro autista (TEA) ou dificuldades de aprendizagem, que frequentemente coexistem com o TDAH.
Outro benefício da avaliação neuropsicológica é a personalização do plano de tratamento. Com base nos resultados, o neuropsicólogo pode recomendar intervenções específicas, como estratégias de organização, adaptações escolares ou técnicas de manejo comportamental. Isso é especialmente importante porque o TDAH não é uma condição "tamanho único", cada pessoa apresenta um perfil único de sintomas e desafios.
Por que continuar a terapia após o diagnóstico?
Receber o diagnóstico de TDAH é apenas o primeiro passo. O acompanhamento contínuo, especialmente por meio de terapia, é essencial para ajudar a pessoa a gerenciar os sintomas e melhorar sua qualidade de vida. A terapia oferece ferramentas práticas para lidar com os desafios do transtorno. Aqui estão algumas razões pelas quais a terapia é indispensável:
Desenvolvimento de estratégias de enfrentamento: A terapia ensina técnicas para melhorar a organização, gerenciar o tempo e controlar impulsos. Por exemplo, o uso de agendas, lembretes visuais ou divisão de tarefas em etapas menores pode fazer uma grande diferença.
Melhora da autoestima: Muitas pessoas com TDAH enfrentam críticas constantes ao longo da vida, o que pode levar a sentimentos de inadequação. A terapia ajuda a reconstruir a confiança, destacando os pontos fortes e promovendo uma visão mais positiva de si mesmo.
Gerenciamento de comorbidades: Como o TDAH frequentemente coexiste com outros transtornos, a terapia pode abordar questões como ansiedade, depressão ou dificuldades de relacionamento, que muitas vezes agravam os sintomas.
Adaptação às mudanças ao longo da vida: O TDAH não desaparece com a idade, mas seus desafios mudam. A terapia contínua ajuda a pessoa a se adaptar a novas demandas, como a transição para a vida adulta, o mercado de trabalho ou a paternidade/maternidade.
Apoio na adesão ao tratamento medicamentoso: Para muitos, o tratamento do TDAH inclui medicamentos. A terapia pode ajudar a monitorar os efeitos desses medicamentos, lidar com possíveis efeitos colaterais e reforçar a importância de seguir as prescrições médicas.
O TDAH é uma condição complexa, mas com o diagnóstico correto e o acompanhamento adequado, é possível viver uma vida plena e produtiva. A neuropsicologia desempenha um papel fundamental ao oferecer uma compreensão detalhada do funcionamento cerebral, permitindo um diagnóstico preciso e intervenções personalizadas. No entanto, o diagnóstico é apenas o começo. A terapia contínua é essencial para equipar a pessoa com TDAH com as ferramentas necessárias para enfrentar os desafios do dia a dia, melhorar sua autoestima e alcançar seus objetivos.
É importante destacar que os testes utilizados na avaliação neuropsicológica, como os que medem atenção, memória de trabalho e funções executivas, são de uso privativo de psicólogos, conforme regulamentado pelos conselhos de psicologia. Somente esses profissionais são capacitados para aplicar, interpretar e integrar os resultados desses testes ao contexto clínico do paciente.
Se você ou alguém que você conhece apresenta sinais de TDAH, procure um profissional qualificado para uma avaliação. Com o suporte certo, é possível transformar os desafios do TDAH em oportunidades para crescimento e autoconhecimento. Afinal, entender o próprio cérebro é o primeiro passo para dominar o jogo da vida.





