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O Chamado do Desconhecido: A Psicologia da Aventura

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A Fragilidade Humana e a Busca pelo Desconhecido: O Drama de Juliana Marins e Omayra Sánchez

A história de Juliana Marins, uma jovem brasileira de 26 anos que caiu em um penhasco durante uma trilha no vulcão Rinjani, na Indonésia, na noite de 20 de junho de 2025, é uma narrativa dolorosa que expõe a tensão entre a curiosidade humana por explorar o desconhecido e nossa vulnerabilidade diante da força implacável da natureza. Mais de 90 horas se passaram desde o acidente, e as equipes de resgate ainda lutam para alcançar a publicitária de Niterói (RJ), que permanece em uma área remota, a cerca de 500 a 650 metros abaixo da trilha, sem água, comida ou proteção contra o frio, a neblina densa e as chuvas incessantes. Este drama, que mobiliza milhares de pessoas em todo o mundo, ecoa a tragédia de Omayra Sánchez, uma menina colombiana de 13 anos que, em 1985, ficou presa nos escombros após a erupção do vulcão Nevado του Ruiz, aguardando por 60 horas um resgate que nunca chegou. Ambas as histórias revelam não apenas os limites da logística humana, mas também o peso psicológico de nossa busca por desafios, a força esmagadora da natureza e a comoção global que nos une diante da fragilidade da vida.


O Impulso de Explorar: A Psicologia da Aventura

Juliana Marins, movida por um espírito aventureiro, decidiu escalar o Monte Rinjani, um vulcão ativo com 3.726 metros de altitude, durante seu mochilão pela Ásia. Essa escolha reflete um traço profundamente humano: a curiosidade inata por explorar o desconhecido. Do ponto de vista psicológico, essa busca é impulsionada pelo sistema de "busca", um circuito cerebral mediado pela dopamina que nos motiva a descobrir novos ambientes, enfrentar desafios e buscar recompensas emocionais, como a sensação de conquista ou a contemplação de paisagens intocadas. Estudos em neurociência mostram que esse sistema é ativado quando nos deparamos com o novo e o incerto, gerando uma excitação que pode ofuscar o córtex pré-frontal, responsável pela avaliação de riscos, levando a decisões que subestimam perigos reais.


Essa curiosidade, embora seja uma força motriz da humanidade, tem um preço. A neurociência sugere que a liberação de dopamina durante a antecipação de uma aventura pode suprimir a capacidade de julgamento racional, aumentando a probabilidade de escolhas arriscadas.


Juliana, ao embarcar na trilha do Rinjani, provavelmente foi atraída pela promessa de uma experiência transformadora. A vista do cume, a conexão com a natureza, o desafio de superar seus limites. No entanto, um escorregão a levou a uma queda de cerca de 300 metros, deixando-a consciente, mas gravemente debilitada, movendo apenas os braços. Três horas após o acidente, turistas espanhóis a localizaram com um drone, enviando imagens e a localização exata à família. Apesar disso, o resgate tem sido frustrado por condições climáticas adversas, como neblina espessa, chuvas e um terreno escorregadio, que tornam o acesso quase impossível. A família, em desespero, critica a lentidão do processo, a falta de planejamento e a desinformação, apontando que o guia abandonou Juliana por mais de uma hora antes do acidente, uma falha que pode ter agravado a tragédia.


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A Força Implacável da Natureza

O Monte Rinjani é um adversário formidável, com seu terreno íngreme, sujeito a chuvas intensas, neblina espessa e temperaturas gélidas que desafiam até as equipes de resgate mais experientes. A psicologia evolucionista sugere que nossa atração por ambientes extremos é um resquício de adaptações ancestrais, quando explorar territórios desconhecidos era essencial para encontrar recursos e garantir a sobrevivência. Contudo, a natureza não negocia. As equipes de resgate, equipadas com drones térmicos, cordas de 450 metros e alpinistas especializados, conseguiram avançar apenas 400 metros em direção a Juliana, permanecendo a cerca de 250 metros dela, segundo as últimas atualizações. A neblina densa e o terreno escorregadio tornam as operações noturnas inviáveis, e a possibilidade de resgate aéreo, descrita pela família como uma “última esperança”, é limitada pela falta de helicópteros equipados com guinchos e pelas condições climáticas instáveis.


Essa luta desigual contra a natureza encontra um paralelo na tragédia de Omayra Sánchez, que, em 1985, ficou presa por 60 horas nos escombros após a erupção do vulcão Nevado del Ruiz, na Colômbia. Imersa em água lamacenta, Omayra, com apenas 13 anos, enfrentou o sofrimento com uma coragem que comoveu o mundo, mas a falta de recursos, como bombas para drenar a água, e a dificuldade de acesso ao local selaram seu destino. Sua morte, televisionada, tornou-se um símbolo da impotência humana diante de desastres naturais. Assim como Juliana, Omayra foi vítima não apenas da força devastadora da natureza, mas também das limitações logísticas e organizacionais que falharam em responder à urgência de salvar uma vida. No caso de Juliana, a família aponta falhas como a má coordenação, a negligência do guia e a continuidade das atividades turísticas no parque enquanto o resgate permanece estagnado, reforçando a percepção de que a humanidade, apesar de seus avanços, ainda tropeça em burocracia e planejamento insuficiente.


A Comoção Global e o Peso Psicológico

O drama de Juliana Marins transcende fronteiras, gerando uma onda de comoção que une pessoas em todo o mundo. O perfil @resgatejulianamarins, criado pela família, tornou-se um ponto de apoio virtual, onde milhares acompanham as atualizações com uma mistura de esperança, angústia e indignação. A continuidade das atividades turísticas no parque, enquanto Juliana permanece desamparada, intensifica a percepção de negligência, alimentando a frustração coletiva. Do ponto de vista psicológico, essa reação é explicada pela empatia, mediada por neurônios-espelho, que nos permite sentir a dor alheia. Estudos em neurociência social mostram que a exposição a sofrimentos como o de Juliana ativa áreas cerebrais associadas à compaixão, mas também à impotência, gerando um misto de preocupação e desespero que impacta profundamente todos que acompanham o caso.


A tragédia de Omayra Sánchez, cuja coragem e sofrimento foram capturados pelas câmeras, teve um impacto semelhante, mobilizando o mundo, mas sem evitar seu desfecho. Ambas as histórias revelam como a empatia global, embora poderosa, muitas vezes esbarra na ineficiência e na burocracia. A culpa coletiva, processada no córtex cingulado anterior, pode motivar mudanças, mas também nos paralisa diante da escala dos desafios. A indignação com a aparente negligência no caso de Juliana, como a demora em mobilizar recursos adequados e a falta de transparência das autoridades locais, reflete a frustração de uma sociedade que se sente impotente, mas profundamente comovida.


Somos Falhos, Mas Persistimos

Nossa curiosidade por explorar o desconhecido é o que nos torna humanos, mas também o que nos expõe à tragédia. Juliana Marins e Omayra Sánchez, separadas por décadas, são vítimas da força da natureza e das falhas humanas. Apesar dos avanços tecnológicos, como drones e equipamentos de resgate, continuamos a tropeçar em falhas de comunicação, falta de recursos adequados e planejamento precário. A família de Juliana clama por ação, enquanto o mundo observa, comovido e preocupado. Essa comoção, embora poderosa, nem sempre se traduz em soluções imediatas. A psicologia nos ensina que o desejo de superar desafios é universal, mas a neurociência nos lembra que nossa biologia tem limites. Somos falhos, e muitas vezes desistimos rápido demais do ser humano, não por falta de vontade, mas por nossa incapacidade de vencer a natureza e nossas próprias limitações. Que a luta por Juliana, impulsionada por sua coragem de se aventurar, nos inspire a persistir, a melhorar e a nunca deixar de acreditar na possibilidade de salvar uma vida, mesmo contra todas as adversidades.

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