A Relação Médico x Psicólogo: Uma Parceria de Respeito
- Juliana Myrian
- 31 de jul.
- 2 min de leitura

Recentemente, uma paciente me procurou informando que sua psiquiatra desejava saber como eu estava conduzindo seu acompanhamento psicológico. Não vi problema em compartilhar informações, desde que respeitando os limites éticos e a privacidade da paciente. Solicitei, então, que ela passasse meu contato à psiquiatra para que pudéssemos conversar diretamente. No entanto, a paciente retornou dizendo que a psiquiatra era “muito ocupada” e que eu deveria tomar a iniciativa de contatá-la.
Essa situação ilustra uma percepção equivocada que, infelizmente, ainda persiste: A de que o psicólogo ocupa um lugar subordinado ao médico. Respondi de forma respeitosa, mas firme, que todos os profissionais têm agendas ocupadas e que, se a psiquiatra desejava dialogar, ela deveria me procurar diretamente. Afinal, a iniciativa deve partir de quem busca a troca, sem pressupor que o psicólogo deva se colocar à disposição por default. Esse episódio reflete como o desrespeito pode surgir de uma hierarquia preestabelecida, na qual o saber do psicólogo é, por vezes, considerado inferior ao do médico.
A relação entre médicos e psicólogos deve ser pautada pela parceria e pelo respeito mútuo, reconhecendo que cada profissão possui seu lugar de saber, construído ao longo de anos de formação e prática. O médico, com sua expertise em saúde física e, em alguns casos, em aspectos neuroquímicos e psicofarmacológicos, complementa o trabalho do psicólogo, que atua na compreensão da subjetividade, dos processos emocionais e comportamentais. Não há sobreposição de papéis, tampouco hierarquia de importância. Cada um faz o que aprendeu em sua formação, e a colaboração é essencial para um cuidado integral ao paciente.
Quando se pressupõe que o psicólogo deve se submeter às demandas do médico, perpetua-se uma dinâmica que desvaloriza o conhecimento psicológico. Essa postura não apenas prejudica a relação profissional, mas também impacta a qualidade do atendimento ao paciente, que se beneficia justamente da troca horizontal entre os profissionais envolvidos.
A parceria ideal entre médico e psicólogo é aquela em que ambos se reconhecem como iguais em suas contribuições, dialogando de forma aberta e respeitosa. Cada um tem seu escopo de atuação, definido por sua formação e prática, e nenhum deve ser colocado em posição de submissão ou superioridade. Somente assim é possível construir um cuidado verdadeiramente integrado, que coloque o bem-estar do paciente no centro, valorizando o saber de cada profissão.



