Luz no Corredor: Minha Jornada como Psicóloga Escolar
- Juliana Myrian
- 23 de mai.
- 4 min de leitura
Em 2021, eu fui chamada para um projeto inovador. A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) criou o programa "Psicólogos na Educação", uma iniciativa voltada para atender às necessidades emocionais e psicológicas dos estudantes após os desafios trazidos pela pandemia. O objetivo era oferecer suporte emocional em um momento de transição, quando as escolas retornavam ao formato presencial, enfrentando altos índices de ansiedade e outros problemas de saúde mental.
A Seduc-SP é responsável por mais de 5.100 escolas estaduais, atendendo cerca de 3,5 milhões de alunos. Esse programa, que alcançou todas essas unidades, buscava promover bem-estar coletivo, com atendimentos online inicialmente e, a partir de 2023, uma versão presencial, impactando diretamente a vida de estudantes, professores e famílias ao criar um ambiente mais acolhedor e seguro.
Embora o meu trabalho fosse online, eu me dedicava a realizá-lo de forma presencial, porque morava na localidade das escolas e sempre acreditei nas estratégias da psicologia escolar. Minha experiência no programa foi de 2021 a 2023, e, nesse período, eu traçava estratégias não só para os alunos, mas para todos da escola, incluindo professores, diretores e pais de alunos.
Durante minha atuação, como relatado na reportagem da UOL TAB, eu lidava diariamente com os reflexos da pandemia nas escolas. Lembro-me de um caso em que “um menino quieto, de quem ninguém esperava um ato de violência, deu uma cabeçada num colega”. Minha primeira recomendação foi separá-los e observar se havia bullying ou outro problema subjacente, como o luto que ele enfrentava. O menino em questão, tinha perdido alguém na pandemia e não estava sabendo elaborar o luto.
Isso me fez perceber a importância de estar atenta aos sinais sutis. A reportagem também destaca que, segundo o Instituto Ayrton Senna, “quase 70% dos 642 mil estudantes ouvidos em 2021 relataram ansiedade ou depressão”, evidenciando a urgência do programa. Além disso, vi como a pandemia agravou outros problemas: “várias vezes me chamavam pedindo orientação, com um corredor cheio de estudantes chorando. Minha primeira recomendação era separar todo mundo”, como mencionei na reportagem.
Bullying é um termo que vem do inglês "bully", que significa valentão, e foi popularizado nos anos 1970 por estudos do psicólogo norueguês Dan Olweus, que definiu o fenômeno como atos intencionais, repetitivos e desiguais de agressão física, verbal ou psicológica contra alguém. Como psicóloga escolar, vejo que ele pode se manifestar de várias formas: xingamentos, exclusão social, rumores maldosos ou até agressões físicas.
A internet, por exemplo, potencializou esse problema. Na internet, a gente consegue encontrar qualquer conteúdo; até os ruins. Quem fica imerso nisso, perde as referências e vai normalizando certos comportamentos.
Paulo Freire, em sua visão transformadora, dizia: “Ninguém educa ninguém, mas todos educam uns aos outros.” Para mim, isso reforça que identificar e prevenir o bullying exige uma parceria entre pais, educadores e alunos.
Para identificar o bullying, eu usava estratégias como analisar os livros de ocorrência das escolas, o que me ajudava a identificar os problemas mais frequentes em cada unidade, como casos de agressividade, bullying ou automutilação. Além disso, cada escola tem uma realidade única, e precisamos nos atentar ao contexto em que ela está inserida, como sua localização, número de alunos e demandas específicas.
Uma escola no interior, por exemplo, pode enfrentar desafios diferentes de uma na Grande São Paulo, e o número de alunos influencia diretamente a dinâmica escolar. Sugiro que pais e educadores observem mudanças de comportamento, como tristeza constante, isolamento, queda no desempenho escolar ou marcas físicas sem explicação.
Ao perceber que está sofrendo bullying, o primeiro passo é contar para um adulto de confiança como um professor, psicólogo ou familiar. Depois, documentar os incidentes com datas e detalhes pode ajudar a tomar providências, como conversar com a coordenação escolar ou buscar apoio psicológico. Se for grave, envolver as autoridades pode ser necessário.
O papel do psicólogo escolar é essencial. Ele pode mediar conflitos, oferecer estratégias de enfrentamento, como “ensinar exercícios de respiração para ajudar a lidar com a ansiedade” antes de provas, e articular ações coletivas com a direção, como monitorar ocorrências virtuais.
No artigo eu destaquei que para conversas individuais, eu costumava separar uma salinha com computador, e para momentos coletivos, minha tela era mostrada num projetor, o que facilitava o diálogo com turmas inteiras. O psicólogo ajuda a criar um ambiente onde todos se sintam valorizados, prevenindo o bullying e promovendo empatia, como vi ao reduzir de 12-15 ocorrências mensais para apenas 3 em um ano em uma das escolas onde atuei.
Como identificar?
Mudanças de comportamento, como tristeza constante ou isolamento.
Queda no desempenho escolar.
Marcas físicas sem explicação.
Retraimento em atividades sociais.
O que fazer se estiver sofrendo bullying?
Contar para um adulto de confiança (professor, psicólogo ou familiar).
Documentar incidentes com datas e detalhes.
Conversar com a coordenação escolar ou buscar apoio psicológico.
Em casos graves, envolver as autoridades.
Estratégias de prevenção
Pais: Observar sinais e manter diálogo aberto com os filhos.
Educadores: Promover atividades que estimulem a empatia e mediar conflitos.
Escola: Criar políticas que incluam o psicólogo no contexto escolar e oferecer suporte psicológico, considerando o contexto específico de cada unidade.





