Mãe Perfeita versus Mãe Real
- Juliana Myrian
- 12 de mai.
- 3 min de leitura
Até quando aceitaremos que mães sejam julgadas por não atingirem um padrão de perfeição que nunca foi exigido de outros papéis familiares? Por que a sociedade insiste em glorificar a "mãe perfeita" enquanto ignora a exaustão e os sacrifícios das mães reais que sustentam lares e carreiras?
A maternidade é uma experiência profundamente transformadora, caracterizada por afeto, responsabilidades e desafios. Contudo, persiste a imagem idealizada da "mãe perfeita", um modelo irrealista perpetuado por normas culturais, representações midiáticas e expectativas sociais. Essa figura, que desempenha todas as funções com serenidade e precisão, contrasta com a "mãe real", uma mulher que, com suas limitações e esforços, constrói vínculos significativos e exerce um papel essencial no desenvolvimento dos filhos. Desconstruir esse mito é fundamental para reconhecer a humanidade da maternidade e valorizar suas contribuições autênticas.
No século XXI, o papel da mulher na sociedade passou por mudanças significativas. Dados revelam que 54,6% das mulheres brasileiras estão no mercado de trabalho. Cerca de 26% das mulheres que são mães, estão em cargos de liderança no Brasil, evidenciando a conciliação entre carreira e família. No entanto, as mulheres dedicam 2,6 vezes mais tempo a tarefas domésticas e de cuidado do que os homens, uma disparidade que sobrecarrega as mães. No Brasil, políticas como a licença-maternidade de 120 dias e programas de creches públicas ainda enfrentam limitações, deixando muitas mulheres sem suporte adequado.
Os desafios da maternidade são múltiplos e complexos. Muitas mães enfrentam exaustão física e emocional, agravada pela pressão de atender a expectativas irreais. Além disso, mães que trabalham fora frequentemente relatam culpa por não estarem sempre presentes, enquanto aquelas em home office lidam com a ausência de fronteiras claras entre trabalho e cuidados domésticos. Esses dilemas ilustram a necessidade de uma visão mais empática sobre a maternidade.
Nesse contexto, o conceito de "mãe suficientemente boa", proposto pelo psicanalista Donald Winnicott, oferece uma perspectiva libertadora. Winnicott argumentava que a mãe ideal não é aquela que evita erros, mas aquela que atende às necessidades do filho com dedicação, adaptando-se às suas demandas de forma gradual. Pequenas falhas, como momentos de frustração ou respostas imperfeitas, são essenciais para o desenvolvimento da criança, pois ensinam resiliência, autonomia e a capacidade de lidar com frustrações. Por exemplo, uma mãe que ocasionalmente não consegue atender imediatamente ao choro do bebê permite que ele desenvolva tolerância à espera, um aprendizado valioso. Esse conceito desmistifica a perfeição e valoriza a presença autêntica, aliviando a pressão sobre as mães.
Os laços maternos, ainda que imperfeitos, são a base para relações saudáveis. Seja por meio de gestos de carinho, como ler uma história antes de dormir, ou de conversas que validam os sentimentos da criança, esses vínculos se fortalecem em contextos diversos. Mães que trabalham fora constroem conexões significativas ao reservar momentos de qualidade com os filhos, enquanto aquelas em home office podem integrar os filhos em pequenas rotinas, como preparar uma refeição juntos. A rede de apoio como família, amigos, desempenha um papel crucial, especialmente para mães que enfrentam jornadas extenuantes. Estudos mostram que o suporte social reduz o estresse materno e melhora o bem-estar familiar.
Superar o ideal de perfeição é um passo essencial para valorizar a maternidade em sua essência. Reconhecer que ser mãe envolve erros, aprendizado e dedicação é um ato de respeito à complexidade dessa experiência. Além disso, é necessário ampliar o acesso a políticas públicas, como licenças parentais mais flexíveis e serviços de saúde mental, para apoiar as mães. A mãe real, com sua humanidade e compromisso, é mais do que suficiente para desempenhar seu papel com impacto positivo e duradouro. Celebrar essa realidade é um convite à sociedade para acolher a maternidade em toda a sua diversidade e profundidade.





