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Procrastinação Sexual: Por Que Deixamos o Prazer para Depois?

Atualizado: 3 de mai.




No meu consultório, diariamente ouço queixas de pacientes frustrados com a procrastinação sexual de seus parceiros. "Ele sempre diz que está cansado", "Ela promete que vai ser amanhã, mas nunca é", ou até "Parece que o sexo virou uma tarefa a ser riscada da lista". Essas histórias revelam um fenômeno cada vez mais comum: a procrastinação sexual, o ato de adiar momentos de intimidade e prazer, muitas vezes sem uma razão clara. Mas o que está por trás dessa tendência? Por que, em um mundo que celebra a liberdade sexual, tantos casais estão adiando o que deveria ser natural e prazeroso?


Procrastinação sexual é o hábito de postergar encontros sexuais, seja por falta de energia, desinteresse momentâneo, ou até mesmo por priorizar outras demandas da vida cotidiana. Diferente de uma baixa libido ou problemas de saúde sexual, a procrastinação sexual não está necessariamente ligada à ausência de desejo, mas à dificuldade de transformar esse desejo em ação. É como deixar para amanhã aquela corrida que você sabe que te faria bem hoje.


Esse comportamento pode surgir em qualquer fase de um relacionamento, mas é especialmente comum em casais de longa data, onde a rotina e as responsabilidades como, trabalho, filhos, contas, acabam tomando esse momento. No entanto, o que começa como um adiamento ocasional pode se transformar em um ciclo vicioso, criando distância emocional e física entre os parceiros.


A procrastinação sexual não é apenas uma questão de "falta de sexo". Suas implicações vão muito além do quarto, impactando a autoestima, a conexão no relacionamento e até a saúde mental. Aqui estão algumas consequências frequentemente observadas:


  1. Frustração e ressentimento: Quando um parceiro deseja intimidade e o outro consistentemente adia, sentimentos de rejeição e mágoa podem surgir. Com o tempo, isso pode levar a conflitos ou até ao esfriamento do relacionamento.


  2. Queda na autoestima: Ser constantemente "deixado para depois" pode fazer com que a pessoa se sinta indesejada ou pouco atraente, abalando sua confiança.


  3. Desconexão emocional: O sexo não é apenas físico; é uma forma de conexão profunda. Quando ele é adiado repetidamente, o casal pode começar a se sentir mais como colegas de quarto do que como amantes.


  4. Aumento do estresse: A ausência de intimidade pode privar o casal de um importante mecanismo de alívio do estresse, já que o sexo libera hormônios como ocitocina e endorfina, que promovem bem-estar.


No consultório, vejo casais que relatam sentir culpa por não priorizar o sexo, mas ao mesmo tempo se sentem sobrecarregados pelas demandas do dia a dia. Muitos descrevem um paradoxo: querem se reconectar, mas o sexo parece uma "tarefa" a mais em uma lista já interminável.


As razões para a procrastinação sexual são variadas e complexas. Algumas das mais comuns incluem:


  • Fadiga e estresse: Em um mundo acelerado, muitas pessoas chegam ao fim do dia exaustas, sem energia para investir em momentos de intimidade.


  • Rotina e monotonia: Relacionamentos longos podem cair em padrões previsíveis, tornando o sexo menos excitante e mais fácil de adiar.


  • Ansiedade de desempenho: A pressão para "performar" ou atender às expectativas do parceiro pode transformar o sexo em algo intimidante.


  • Priorização inadequada: Tarefas como responder e-mails, assistir a uma série ou praticar jogos online, muitas vezes parecem mais "urgentes" do que a intimidade, mesmo que, no fundo, saibamos que ela é mais importante.


Além disso, vivemos em uma cultura que glorifica a produtividade e frequentemente negligencia o prazer. Quantas vezes você já se pegou pensando que "não tem tempo" para algo que te faria feliz? O sexo, infelizmente, muitas vezes entra nessa lista de coisas "dispensáveis".


A boa notícia é que a procrastinação sexual não é uma sentença definitiva. Com pequenas mudanças de hábito e uma abordagem intencional, é possível reacender a chama e trazer o prazer de volta à rotina. Aqui estão algumas sugestões práticas:


  1. Priorize a intimidade: Assim como você agenda uma reunião de trabalho, reserve momentos para estar com seu parceiro. Não precisa ser sexo imediatamente, pode ser um jantar romântico ou uma conversa sem distrações para criar o clima.


  2. Reduza a pressão: Tire o foco do "desempenho" e valorize a conexão. Beijos, carícias e momentos de proximidade física sem a obrigação do sexo podem ajudar a reacender o desejo.


  3. Comunique-se abertamente: Converse com seu parceiro sobre o que está funcionando (ou não) no relacionamento. Às vezes, a procrastinação sexual é apenas um sintoma de questões mais profundas que precisam ser abordadas.


  4. Cuide da sua energia: Estabeleça limites no trabalho, durma bem e pratique atividades que recarreguem sua bateria. Quando você está menos exausto, é mais fácil se abrir para o prazer.


  5. Torne o sexo divertido novamente: Experimente algo novo, como uma fantasia, um brinquedo sexual ou até uma mudança de ambiente. A novidade pode despertar a curiosidade e o desejo.


  6. Procure ajuda profissional: Se a procrastinação sexual está causando sofrimento ou parece ligada a questões mais profundas, como ansiedade ou problemas no relacionamento, um psicólogo ou terapeuta de casais pode ajudar.


A procrastinação sexual é um convite para refletirmos sobre como estamos lidando com o prazer em nossas vidas. Em um mundo que nos cobra produtividade constante, é fácil esquecer que o sexo não é apenas um "extra", mas uma parte essencial da nossa humanidade.


Como terapeuta sexual, vejo casais que ao enfrentarem esse desafio com coragem e abertura, redescobrem não apenas a paixão, mas também a conexão profunda que os uniu em primeiro lugar.

Então, por que deixar o prazer para amanhã? Comece hoje, com um pequeno passo, uma conversa ou um toque. Afinal, o sexo não é uma tarefa a ser cumprida , é um presente a ser celebrado.

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