Quando é hora de se recolher?
- Juliana Myrian
- 22 de jul.
- 2 min de leitura

Ser psicólogo é carregar o privilégio e o peso de acolher a dor do outro. É estar presente, ouvir com empatia e oferecer um espaço seguro para que as emoções mais profundas possam ser expressas. Mas, por trás desse papel de cuidado, há um ser humano, alguém que também sente, se cansa e, em muitos momentos, precisa se proteger para continuar sendo um porto seguro.
Cuidar de quem cuida é um ato de reconhecimento dessa humanidade. O psicólogo, embora treinado para guiar outros em suas jornadas, não está imune às próprias vulnerabilidades. Há momentos em que o peso acumulado das histórias ouvidas, das angústias compartilhadas e das responsabilidades profissionais pode levar ao esgotamento. E é exatamente nesses momentos que a sabedoria está em saber se recolher.
Reconhecer quando não se está apto a contribuir é um ato de coragem e responsabilidade. Não se trata de fraqueza, mas de autoconsciência. O psicólogo que se permite pausar, refletir e cuidar de si mesmo demonstra respeito não apenas por sua própria saúde mental, mas também pelos pacientes que confiam em seu acolhimento. Mostrar vulnerabilidade não é sinal de fracasso, mas de humanidade. É um lembrete de que, antes de ser um profissional, o psicólogo é um ser humano com limites, emoções e necessidades.
Saber se retirar quando necessário é, portanto, uma forma de cuidado consigo e com o outro. É entender que, para oferecer o melhor, é preciso estar bem. Isso pode significar buscar um espaço para respirar e se reconectar consigo mesmo. O psicólogo que acolhe a dor também precisa de acolhimento.
Cuidar de quem cuida é um convite à autenticidade. É reconhecer que a força do psicólogo não está em ser inabalável, mas em ser humano com toda a beleza e fragilidade que isso implica. Ao se permitir cuidar de si, o psicólogo reforça sua capacidade de continuar sendo um farol para aqueles que buscam sua ajuda.



