Quem disse que o Transtorno Borderline está associado a Caos?
- Juliana Myrian
- 27 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de mai.
A música "Alive", lançada por Sia em 2015, é um hino de resiliência, autodescoberta e luta pela sobrevivência diante de adversidades. Sua letra carrega uma intensidade emocional que ressoa profundamente com as experiências de pessoas que convivem com o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). Este texto explora as conexões entre a letra de "Alive" e as características do TPB, destacando como a música reflete o grito por ser ouvido, amado e respeitado, um desejo central para quem vive com esse transtorno.
Características do Transtorno de Personalidade Borderline
O TPB é um transtorno mental caracterizado por instabilidade emocional, dificuldades nos relacionamentos interpessoais, impulsividade e um senso de identidade fragilizado. Algumas de suas principais características incluem:
Intensidade emocional e instabilidade afetiva: Pessoas com TPB experimentam emoções extremas, oscilando rapidamente entre euforia, raiva, tristeza ou vazio.
Medo intenso de abandono: Há uma busca constante por validação e temor de rejeição, o que pode levar a comportamentos impulsivos para evitar o abandono.
Autopercepção instável: A visão de si mesmo é frequentemente distorcida, com sentimentos de inadequação ou vazio crônico.
Comportamentos impulsivos: Podem incluir automutilação, abuso de substâncias ou decisões precipitadas como forma de lidar com a dor emocional.
Dificuldade em regular emoções: Pequenos eventos podem desencadear reações desproporcionais, dificultando o controle emocional.
Desejo profundo de conexão e amor: Apesar das dificuldades, pessoas com TPB anseiam por relacionamentos significativos, respeito e aceitação.
Essas características criam um cenário de luta interna, onde o indivíduo busca afirmar sua existência e valor em meio a um turbilhão emocional. A letra de "Alive" reflete muitos desses aspectos, funcionando como uma metáfora para a experiência borderline.
A música "Alive" começa com uma declaração poderosa: "I was born in a thunderstorm / I grew up overnight" ("Nasci em uma tempestade / Cresci da noite para o dia").
Essas linhas evocam a sensação de uma vida marcada por caos e intensidade, algo comum no TPB, onde as emoções são frequentemente vividas como tempestades internas. O "crescer da noite para o dia" pode ser interpretado como a necessidade precoce de enfrentar desafios emocionais avassaladores, uma realidade para muitos com TPB, que lidam com traumas ou instabilidades desde cedo.
O refrão, com o grito "I'm still breathing / I'm alive" ("Ainda estou respirando / Estou viva"), é o cerne da música e reflete a resiliência de quem enfrenta o TPB. Apesar da dor, das crises e do sentimento de vazio, há uma afirmação de existência e sobrevivência. Essa repetição de "estou viva" é um eco do desejo de ser visto e ouvido, uma característica central do transtorno. Pessoas com TPB frequentemente lutam para sentir que sua existência é válida, e o grito de Sia na música simboliza essa busca por validação e reconhecimento.
Outro trecho significativo é: "I found solace in the strangest place / Way in the back of my mind" ("Encontrei consolo no lugar mais estranho / Bem no fundo da minha mente"). Essa linha reflete a autopercepção instável e a introspecção profunda que acompanham o TPB. Muitas vezes, quem tem o transtorno busca refúgio em pensamentos internos, mesmo que esses sejam caóticos ou dolorosos. A ideia de encontrar consolo em um lugar "estranho" pode ser associada à luta para encontrar paz em meio à desordem emocional.
A música também aborda a superação de adversidades: "I took it all, but I'm still here" ("Eu aguentei tudo, mas ainda estou aqui"). Essa frase ressoa com a resiliência de pessoas com TPB, que enfrentam crises intensas, impulsos autodestrutivos e rejeições, mas continuam lutando para seguir em frente. A impulsividade e a automutilação, comuns no transtorno, são formas de lidar com a dor, mas a mensagem de estar "ainda aqui" reforça a capacidade de resistir, mesmo quando tudo parece insuportável.
A força de "Alive" está em sua capacidade de transmitir um grito primal por reconhecimento, algo profundamente alinhado com as experiências de quem tem TPB. O transtorno é frequentemente mal compreendido, e as pessoas que convivem com ele enfrentam estigmas que as rotulam como "dramáticas" ou "instáveis". No entanto, como a música sugere, o que está por trás dessa intensidade é um desejo universal de amor, respeito e aceitação. O refrão de Sia, com sua energia visceral, captura essa necessidade de afirmar: "Eu existo, eu importo, eu mereço ser ouvido."
Assim como Sia canta sobre superar as adversidades e afirmar sua sobrevivência, pessoas com TPB buscam formas de navegar suas tempestades internas e encontrar um lugar no mundo. A música, portanto, serve como um espelho para essas lutas, oferecendo uma mensagem de esperança e força. Ela lembra que, apesar da dor, é possível continuar respirando, continuar vivo.
A música "Alive" de Sia é mais do que um hino de superação; é uma representação poderosa das lutas emocionais enfrentadas por pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline. Através de sua letra, Sia expressa a intensidade emocional, a busca por validação e a resiliência que caracterizam tanto a experiência do TPB quanto a narrativa da música. Ao conectar os versos de "Alive" com as características do transtorno, percebemos que ambos compartilham um núcleo comum: o desejo de ser ouvido, amado e respeitado. Assim, a música não apenas ressoa com quem vive com TPB, mas também amplifica suas vozes, reforçando que, mesmo em meio ao caos, a sobrevivência é uma vitória digna de celebração. Sugiro ouvir a música para sentir a intensidade de quem pede apenas para ser reconhecido.





