Recrutadores e Signos: Um Alerta sobre Práticas de Seleção Inadequadas
- Juliana Myrian
- 23 de jul.
- 2 min de leitura

Hoje atendi um caso que me despertou um alerta. A paciente relatava ter passado por um processo seletivo e a primeira pergunta da recrutadora foi: "Qual o seu signo? Vai depender dessa resposta para darmos seguimento." Durante a entrevista, a recrutadora dizia que só contratava baseado no signo, pois não conhecia a candidata e teria que avaliar as características baseado no signo do candidato. Para justificar sua estratégia de contratação, reforçava que não misturava as equipes com base no signo, pois era impossível manter pessoas de signos incompatíveis na mesma equipe.
Nessas horas me pergunto: O que está acontecendo com os recrutadores despreparados que usam um critério sem base científica para avaliar os candidatos? Desde quando passamos a descartar a ciência do comportamento como base, levando em consideração as competências, e passamos a usar achismos? Essa abordagem não apenas desvaloriza a psicologia organizacional e as ferramentas validadas de avaliação, como testes de habilidades, dinâmicas de grupo e análise de currículo, mas também expõe a fragilidade de processos seletivos que ignoram a objetividade.
Isso me reforça o quanto o Brasil, em muitos casos, ainda é despreparado nos processos de recrutamento e seleção. A minha paciente passou no processo, pois a recrutadora julgou que o signo da candidata era batalhador e com iniciativa por ser capricorniana. Poderia ter sido diferente. Ela poderia ter sido rejeitada pela vaga simplesmente por achismo. Essa prática arbitrária não só compromete a qualidade da seleção, mas também pode levar a discriminações injustas, violando princípios éticos e legais previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e na Constituição Federal, que exigem critérios objetivos e não discriminatórios.
A crença de que signos determinam compatibilidade ou desempenho profissional é um retrocesso. Estudos científicos, como os da psicologia organizacional, mostram que características como liderança, trabalho em equipe e resiliência devem ser avaliadas por meio de ferramentas validadas, como entrevistas estruturadas, testes psicométricos e análise de experiências anteriores. Substituir isso por astrologia é, no mínimo, um desserviço à gestão de pessoas e à própria empresa, que pode perder talentos qualificados por decisões baseadas em suposições infundadas.
Para candidatos que enfrentam essa situação, uma abordagem eficaz é redirecionar a conversa com profissionalismo: "Acho curioso o interesse por signos, mas gostaria de destacar como minhas competências e experiências se alinham com os objetivos da vaga." Isso mantém o foco no que realmente importa: a capacidade de entregar resultados.
Em resumo, usar signos como critério de seleção é uma prática injustificável, que reflete despreparo e desrespeito aos princípios de um recrutamento ético e eficaz. É urgente que empresas invistam na capacitação de seus recrutadores, priorizando métodos baseados em evidências e garantindo processos justos, que valorizem o potencial real dos candidatos, sem cair em achismos ou estereótipos. Só assim teremos contratações mais assertivas e equipes verdadeiramente preparadas para os desafios do mercado.



